domingo, 30 de dezembro de 2012

51 E HAVAIANAS


51 e Havaianas 

      Poxa, eu só queria uns trezentos pesos para comprar mais caixas de alfajores havanna... Penso isto enquanto vou lendo uma manchete sobre enriquecimento de 562% no patrimônio dos Kirschner (mais de doze milhões de dólares), em oito anos de poder, o nome dessa gente nem quero saber porque de cleptomaníacos de ilusões estou cheio! E pergunto: “se aqui eles estão no poder há cinqüenta anos? Quantos por cento temos que calcular de acréscimo?”
       Eles quem? Não se deve generalizar, há sim os camundongos gordos, vêm da banda de música da UDN, outros bigodudos velhos também do PSD, mas existem bigodinhos novos empolados de estrelinhas no peito que voaram, voaram e voam até pouco tempo às nossas custas e nunca disseram nada, porque cabe à imprensa livre descobrir e denunciá-los! Esqueçam, vamos conversar  amenidades, confeitos e festinhas de crianças, o Mickey Mouse, a Clarabela, os irmãos metralha, frutos da imaginação de quem virou parque temático em um grande laranjal pertencente a um Sr.chamado Orlando, depois na Ásia e em Paris, divertidos parques, aqui é mais! E quando ainda era Getúlio Dornelles Vargas o presidente, estiveram Disney, Orson Welles, Bete Davis, Carmem Miranda, Francisco Alves, Evita Perón, um certo visionário Sr.Joaquim Rolla, que nomeia justamente a rua do lago e tantas outras celebridades se hospedaram na piscina térmica e funda do Hotel Quitandinha, em Petrópolis. Como não se lembram?Até eu, reles mortal mergulhei naquela piscina quando era guri e depois ficávamos vendo as araras, aratacas, calopsitas, canários, naquela gaiola alta e linda que ficava em amplo corredor... Hoje o SESC adquiriu todo o 1º andar do extinto cassino e vai concluindo as reformas. O lago em frente ao castelo em estilo normando tem o formato do mapa do Brasil (bem mal feito por sinal), onde resistem um pequeno farol e uma churrascaria, pedalinhos e canoas deslizavam pelas águas frias da serra, lago construído assim como o gigante Paranoá e seus terrenos comprados a preço "de banana" por senadores e onde construíram e revenderam “a nova classe” e embaixadas, belas mansões... Quem sai do Rio de ônibus a caminho do planalto central, pela rodovia Washington Luis, avistará o suntuoso cassino em meio às matas de floresta atlântica, que estudamos ser de clima tropical de altitude, o melhor em minha opinião. Seguiremos pelas Minas Gerais e a esburacada Goiás. Ah sim, pelos vales despencam casas de sonho, cachorros boxers, pastores e dog alemães a rangerem os dentes nos portões, como eram as festas regadas à chivas e bolinhas infantis arremessadas, nos salões de estofados rosa, decoração estilo art noveau hollywoodiana, combinando bem com a garagem para poucos veículos, não mais de cem calhambeques e fords, um ou outro bugatti conversível, que chegavam trazendo mocinhas para praticar arco e flecha e beber coquetel de frutas sem álcool à beira da piscina. Ah, tempos de roupas talhadas no alfaiate! Decotes comportados e gumex nos cabelos. Piteiras e ainda alguns decadentes chapéus, pois a moda destes caiu por terra pelos anos 30. Para distante América cafeeira Santos Dumont trouxe um inovador chuveiro (um balde furado) da 1a guerra, e um telefone. E imaginar que, ainda nos anos 60, em São Paulo, levavam-se horas para completar uma ligação via telefonista a outro ponto... Somos este mosaico, nossos avós imigrantes ou retirantes sem comunicação, em meio aos coronéis do agreste e serrado, outros travestidos de sulistas e separatistas, igualmente estancieiros e chulos, a revezarem-se no poder. Infelizmente, dos partidos trabalhistas nasceram Inácios, Delúbios e Letícias etc a trajarem-se com estilistas de grife, a comprarem land rovers e tentarem jogar golfe, completamente inédito, completamente tupiniquim, eles  precisavam disso? Uma caninha 51 e havaianas já os fazem felizes!
        Nós temos o segundo operário eleito na História, e daí? Ignorou multidões e apegando-se ao poder e às velhas raposas de sempre fingiu melhor que antes saber de nada. Vamos vivendo. As favelas aumentando, inclusive no sul, governados pela ala nacionalista, aqui no Rio de Janeiro também perderam, eram 800 e poucas favelas nos anos80, já superam mil, e os carros chineses estão chegando, três novas montadoras! Vamos financiar, murar as linhas de sonho! Vamos pintar os barracos de colorido para alegrar Michael Jackson, resumindo a ópera - o capitalismo é uma merda e Socialismo uma máscara de Chávez no carnaval!Vereadores se auto-reajustando, bailes e bailes... Continue Sarney, vá para o inferno de fardão, pelo menos você nunca enganou ninguém!

*Dr. Guto prefere alfajor havanna blanco...

domingo, 16 de dezembro de 2012


QUASE UGANDA


                  Desafiar o poder dos pessimistas é um exercício diário para sobrevivência do empírico. Dizer isto na rua, sob a fumaça negra de uma escopeta é uma coisa, no conforto de um ônibus com ar-condicionado é outra. A fumaça é a mesma, relativa que esquenta e penetra a derme no cérebro, seja no apinhado ponto em plena Avenida Rio Branco, movimentado palco de passeatas e diretas, de corre-corre e bate-bate nos camelôs, nas bolsas e barracos de mulheres que falam, quando não levam nossa paciência junto...
         Estou um pouco mais atrás, exatamente digitando esta crônica, enquanto seqüelas de pensamentos se vão com solavancos de ultrapassagens e sinais vermelhos. Saímos da frente do edifício da Rádio Nacional, lembram? Próximos do terminal marítimo de passageiros: turistas abastados que chegam por mar às ondas desta cidade... O corredor ainda vazio porque é início de tarde e o sol brilha a pino, num horário que poucos viajam. Pessoas sempre vão ou voltam em determinados compromissos ou saídas, não sei. O mundo vive em movimento, pessoas falando o tempo todo e somos obrigados a co-participar, mesmo sem vontade. Assim relato um diálogo na fileira ao lado e tentarei ser o mais preciso possível porque elas falam rápido demais, atendem ao celular, comem torrones e elogiam o Bope,  e minha digitação de longe não é páreo para a sutileza de seus argumentos. Começaram falando do Renan: “Esse país acabou, concorda fulana? Uma vaca deita com um corrupto e fica tudo por aí, senado safado! Acredita que temos mais senadores que os americanos...” “Menina, você viu a roupa dela?” A outra responde folheando revista; “que roupa, ela se deu foi bem! A jornalista pousou sem e garantiu mais uma putana casa em Barra de São Miguel...” Agora faltava captar onde era essa tal Barra, em Alagoas, sei que no estuário do velho Chico tem o Peba, seria por ali tal local de suntuosas mansões? Digito na dúvida se falaram la puta ou mistura de espanhol de fronteira com macaxeira e barbaridade! Continuam em brasileiro mesmo “Esse país é um luxo, povo bonito!  Povo inteligente  e vota nesses vagabundos, quem será pior hein?”  A fulana completava e a perua arregaçava com a brasilidade: “antigamente se cantava o hino nacional nos pátios, pelo menos uma vez por mês, hoje nem sabem o refrão!” E são limpos viu, jogam papel no chão até lá em Curitiba!” Esta expressão “viu” facilmente identifiquei como um termo paulista, agora por que citara a cidade mais verde do Brasil? Engano, é João Pessoa: ainda visitaremos este maravilhoso Tropical Tambaú! Ou moraria lá perto do Teatro do Paiol? Estavam explodindo as raízes trigueiras quando acusaram de pretos sujos e favelados os únicos que roubavam na tropa de elite e gritariam vivas ao capitão Nascimento! Devem ter assistido alguma cópia pirata da fita, pois nem em circuito estreou ainda (exceção ao Festival de Cinema do Rio). Por coincidência passamos a pouco em frente ao velho cine Odeon, na Cinelândia, hoje Odeon-BR, reformados os estofados, as filmadoras francesas, as lanternas orientais e mantidos pela Petrobrás - uma vanguardista iniciativa cultural. Outras salas famosas foram abaixo ou viraram igrejas universal, empresa multinacional creio eu, isenta de impostos. Mas continuaram as peruas: “se tivéssemos a volta  da monarquia, as coisas melhorariam porque o bisneto de D. Pedro II mandaria pra cadeia todos os casacas!” A que casacas estariam se referindo? Os vira- casacas,os infiéis que mudam de partido ou os casacos de pele contrabandeados da loja Daslu e remessas descasadas ao exterior? Certamente não seriam, corruptos nos partidos compram peles de lobo para parecer cordeiros. Elas nem eram excelentíssimas esposas, andavam de ônibus e o sinônimo entre as classes é apenas o motor Mercedes... Um M de Maria a louca ou a filósofa do PT, acrescente-se do B, e um monte de aloprados assaltando nas cidades... Ela desceu na Praia do Flamengo, em frente ao edifício Biarritz, onde habitaram Lacerda e alguns embaixadores, belas varandas de ferro! Arquitetura de uma cidade gradeada, enfeitada de vacas coloridas, a cow parade, novidade que veio da triste Suíça: vacas de arte! Não que vomitam torrone mastigado da classe média! Antes de descer concluiu a que parecia ter tido o cartão clonado em loja da Uruguaiana: “não adianta esquentar não filha: aqui é uma Uganda melhorada!” 
                A música ambiente continuou tocando, quem cantava era Gal, e por alguns instantes me lembrei da tropicália e de peitos caídos, enquanto observava Maria, chamo assim porque já ia longe de salto e a paz ia voltando ao interior do veículo, com poucos e calados passageiros. A jovem continuou na janela oposta, sem par para fofocar e nem escrevi metade dos absurdos, me recusaria. A Democracia aceita assassinos de traficantes e até aqueles radicalmente contra ela, como Idi Amim, boçal que governou esse país africano por quase uma década. Dada aqui é maravilha que pára no ar e se chama Bebel! É, pensando bem, com 70% de eleitores obrigados a votar e no nível elementar somos uma quase Uganda.

                                                   RJ, novembro de 2007.

* Dr. Guto já teve um notebook “subtraído” nesta mesma linha de ônibus...