domingo, 30 de dezembro de 2012

51 E HAVAIANAS


51 e Havaianas 

      Poxa, eu só queria uns trezentos pesos para comprar mais caixas de alfajores havanna... Penso isto enquanto vou lendo uma manchete sobre enriquecimento de 562% no patrimônio dos Kirschner (mais de doze milhões de dólares), em oito anos de poder, o nome dessa gente nem quero saber porque de cleptomaníacos de ilusões estou cheio! E pergunto: “se aqui eles estão no poder há cinqüenta anos? Quantos por cento temos que calcular de acréscimo?”
       Eles quem? Não se deve generalizar, há sim os camundongos gordos, vêm da banda de música da UDN, outros bigodudos velhos também do PSD, mas existem bigodinhos novos empolados de estrelinhas no peito que voaram, voaram e voam até pouco tempo às nossas custas e nunca disseram nada, porque cabe à imprensa livre descobrir e denunciá-los! Esqueçam, vamos conversar  amenidades, confeitos e festinhas de crianças, o Mickey Mouse, a Clarabela, os irmãos metralha, frutos da imaginação de quem virou parque temático em um grande laranjal pertencente a um Sr.chamado Orlando, depois na Ásia e em Paris, divertidos parques, aqui é mais! E quando ainda era Getúlio Dornelles Vargas o presidente, estiveram Disney, Orson Welles, Bete Davis, Carmem Miranda, Francisco Alves, Evita Perón, um certo visionário Sr.Joaquim Rolla, que nomeia justamente a rua do lago e tantas outras celebridades se hospedaram na piscina térmica e funda do Hotel Quitandinha, em Petrópolis. Como não se lembram?Até eu, reles mortal mergulhei naquela piscina quando era guri e depois ficávamos vendo as araras, aratacas, calopsitas, canários, naquela gaiola alta e linda que ficava em amplo corredor... Hoje o SESC adquiriu todo o 1º andar do extinto cassino e vai concluindo as reformas. O lago em frente ao castelo em estilo normando tem o formato do mapa do Brasil (bem mal feito por sinal), onde resistem um pequeno farol e uma churrascaria, pedalinhos e canoas deslizavam pelas águas frias da serra, lago construído assim como o gigante Paranoá e seus terrenos comprados a preço "de banana" por senadores e onde construíram e revenderam “a nova classe” e embaixadas, belas mansões... Quem sai do Rio de ônibus a caminho do planalto central, pela rodovia Washington Luis, avistará o suntuoso cassino em meio às matas de floresta atlântica, que estudamos ser de clima tropical de altitude, o melhor em minha opinião. Seguiremos pelas Minas Gerais e a esburacada Goiás. Ah sim, pelos vales despencam casas de sonho, cachorros boxers, pastores e dog alemães a rangerem os dentes nos portões, como eram as festas regadas à chivas e bolinhas infantis arremessadas, nos salões de estofados rosa, decoração estilo art noveau hollywoodiana, combinando bem com a garagem para poucos veículos, não mais de cem calhambeques e fords, um ou outro bugatti conversível, que chegavam trazendo mocinhas para praticar arco e flecha e beber coquetel de frutas sem álcool à beira da piscina. Ah, tempos de roupas talhadas no alfaiate! Decotes comportados e gumex nos cabelos. Piteiras e ainda alguns decadentes chapéus, pois a moda destes caiu por terra pelos anos 30. Para distante América cafeeira Santos Dumont trouxe um inovador chuveiro (um balde furado) da 1a guerra, e um telefone. E imaginar que, ainda nos anos 60, em São Paulo, levavam-se horas para completar uma ligação via telefonista a outro ponto... Somos este mosaico, nossos avós imigrantes ou retirantes sem comunicação, em meio aos coronéis do agreste e serrado, outros travestidos de sulistas e separatistas, igualmente estancieiros e chulos, a revezarem-se no poder. Infelizmente, dos partidos trabalhistas nasceram Inácios, Delúbios e Letícias etc a trajarem-se com estilistas de grife, a comprarem land rovers e tentarem jogar golfe, completamente inédito, completamente tupiniquim, eles  precisavam disso? Uma caninha 51 e havaianas já os fazem felizes!
        Nós temos o segundo operário eleito na História, e daí? Ignorou multidões e apegando-se ao poder e às velhas raposas de sempre fingiu melhor que antes saber de nada. Vamos vivendo. As favelas aumentando, inclusive no sul, governados pela ala nacionalista, aqui no Rio de Janeiro também perderam, eram 800 e poucas favelas nos anos80, já superam mil, e os carros chineses estão chegando, três novas montadoras! Vamos financiar, murar as linhas de sonho! Vamos pintar os barracos de colorido para alegrar Michael Jackson, resumindo a ópera - o capitalismo é uma merda e Socialismo uma máscara de Chávez no carnaval!Vereadores se auto-reajustando, bailes e bailes... Continue Sarney, vá para o inferno de fardão, pelo menos você nunca enganou ninguém!

*Dr. Guto prefere alfajor havanna blanco...

domingo, 16 de dezembro de 2012


QUASE UGANDA


                  Desafiar o poder dos pessimistas é um exercício diário para sobrevivência do empírico. Dizer isto na rua, sob a fumaça negra de uma escopeta é uma coisa, no conforto de um ônibus com ar-condicionado é outra. A fumaça é a mesma, relativa que esquenta e penetra a derme no cérebro, seja no apinhado ponto em plena Avenida Rio Branco, movimentado palco de passeatas e diretas, de corre-corre e bate-bate nos camelôs, nas bolsas e barracos de mulheres que falam, quando não levam nossa paciência junto...
         Estou um pouco mais atrás, exatamente digitando esta crônica, enquanto seqüelas de pensamentos se vão com solavancos de ultrapassagens e sinais vermelhos. Saímos da frente do edifício da Rádio Nacional, lembram? Próximos do terminal marítimo de passageiros: turistas abastados que chegam por mar às ondas desta cidade... O corredor ainda vazio porque é início de tarde e o sol brilha a pino, num horário que poucos viajam. Pessoas sempre vão ou voltam em determinados compromissos ou saídas, não sei. O mundo vive em movimento, pessoas falando o tempo todo e somos obrigados a co-participar, mesmo sem vontade. Assim relato um diálogo na fileira ao lado e tentarei ser o mais preciso possível porque elas falam rápido demais, atendem ao celular, comem torrones e elogiam o Bope,  e minha digitação de longe não é páreo para a sutileza de seus argumentos. Começaram falando do Renan: “Esse país acabou, concorda fulana? Uma vaca deita com um corrupto e fica tudo por aí, senado safado! Acredita que temos mais senadores que os americanos...” “Menina, você viu a roupa dela?” A outra responde folheando revista; “que roupa, ela se deu foi bem! A jornalista pousou sem e garantiu mais uma putana casa em Barra de São Miguel...” Agora faltava captar onde era essa tal Barra, em Alagoas, sei que no estuário do velho Chico tem o Peba, seria por ali tal local de suntuosas mansões? Digito na dúvida se falaram la puta ou mistura de espanhol de fronteira com macaxeira e barbaridade! Continuam em brasileiro mesmo “Esse país é um luxo, povo bonito!  Povo inteligente  e vota nesses vagabundos, quem será pior hein?”  A fulana completava e a perua arregaçava com a brasilidade: “antigamente se cantava o hino nacional nos pátios, pelo menos uma vez por mês, hoje nem sabem o refrão!” E são limpos viu, jogam papel no chão até lá em Curitiba!” Esta expressão “viu” facilmente identifiquei como um termo paulista, agora por que citara a cidade mais verde do Brasil? Engano, é João Pessoa: ainda visitaremos este maravilhoso Tropical Tambaú! Ou moraria lá perto do Teatro do Paiol? Estavam explodindo as raízes trigueiras quando acusaram de pretos sujos e favelados os únicos que roubavam na tropa de elite e gritariam vivas ao capitão Nascimento! Devem ter assistido alguma cópia pirata da fita, pois nem em circuito estreou ainda (exceção ao Festival de Cinema do Rio). Por coincidência passamos a pouco em frente ao velho cine Odeon, na Cinelândia, hoje Odeon-BR, reformados os estofados, as filmadoras francesas, as lanternas orientais e mantidos pela Petrobrás - uma vanguardista iniciativa cultural. Outras salas famosas foram abaixo ou viraram igrejas universal, empresa multinacional creio eu, isenta de impostos. Mas continuaram as peruas: “se tivéssemos a volta  da monarquia, as coisas melhorariam porque o bisneto de D. Pedro II mandaria pra cadeia todos os casacas!” A que casacas estariam se referindo? Os vira- casacas,os infiéis que mudam de partido ou os casacos de pele contrabandeados da loja Daslu e remessas descasadas ao exterior? Certamente não seriam, corruptos nos partidos compram peles de lobo para parecer cordeiros. Elas nem eram excelentíssimas esposas, andavam de ônibus e o sinônimo entre as classes é apenas o motor Mercedes... Um M de Maria a louca ou a filósofa do PT, acrescente-se do B, e um monte de aloprados assaltando nas cidades... Ela desceu na Praia do Flamengo, em frente ao edifício Biarritz, onde habitaram Lacerda e alguns embaixadores, belas varandas de ferro! Arquitetura de uma cidade gradeada, enfeitada de vacas coloridas, a cow parade, novidade que veio da triste Suíça: vacas de arte! Não que vomitam torrone mastigado da classe média! Antes de descer concluiu a que parecia ter tido o cartão clonado em loja da Uruguaiana: “não adianta esquentar não filha: aqui é uma Uganda melhorada!” 
                A música ambiente continuou tocando, quem cantava era Gal, e por alguns instantes me lembrei da tropicália e de peitos caídos, enquanto observava Maria, chamo assim porque já ia longe de salto e a paz ia voltando ao interior do veículo, com poucos e calados passageiros. A jovem continuou na janela oposta, sem par para fofocar e nem escrevi metade dos absurdos, me recusaria. A Democracia aceita assassinos de traficantes e até aqueles radicalmente contra ela, como Idi Amim, boçal que governou esse país africano por quase uma década. Dada aqui é maravilha que pára no ar e se chama Bebel! É, pensando bem, com 70% de eleitores obrigados a votar e no nível elementar somos uma quase Uganda.

                                                   RJ, novembro de 2007.

* Dr. Guto já teve um notebook “subtraído” nesta mesma linha de ônibus...



quinta-feira, 29 de novembro de 2012

A ARTE CRIADORA



Introdução do Livro


Carpe o quê?

                           Vou pedir ajuda para fazer a introdução. Preferia conhecer um escritor ou uma escritora que pudessem me ajudar, fazendo por mim. Lembro como se fosse hoje, na hora que precisei da impressora para imprimir um monte de textos, ela se rebelou e não foi apenas falta de tinta naquele dia 29. Queria registrar o livro na Biblioteca Nacional naquela data! Desci no Largo da Carioca e passei mais de duas horas alugando uma pobre moça no quiosque junto à saída do metrô, com recomendações de impressão, cuidados com as  fotos, ela não agüentava mais aquele chato de gravata separando cuidadosamente as folhas... E certo momento comentou com sua colega: “por que esses advogados tiram tanta cópia!” Fiquei devendo hum real e pouco e não deu tempo de explicar que na era digital tanta burocracia se torna completamente desnecessária e tinha que correr para outra loja de “xerox” próxima e encadernar tudo em espiral e dois volumes. Consegui, entrando pela viela do Teatro Municipal, onde se compram ingressos e rumei apressado em direção ao MEC. Lá chegando, já passava do horário (de nove às dezessete horas) e perguntei aflito: “ainda consigo registrar hoje?” Uma eficiente funcionária calmamente respondeu: “o que são alguns minutos para um livro”. Ainda voltei para tirar cópia da identidade. Sorte encontrá-las, anônimas.
                E lá fui eu falar com os editores que me receberam... Se havia expectativa era qualquer coisa que se movera nas teclas, tentando aproveitar alguma das folhas que caíam: eram formais, acessíveis, calados, ora bafejando verdades em opiniões diretas – “seu livro é um produto, tem que ser vendido!” Não era escritor popular, os tempos eram intercalados e a seqüência da rima nem sempre lógica, tinha de refazer tudo? E voltar como autor, não cronista, para situar os leitores num elo que fizesse sentido – “Carpe o quê? Carpe Diem? Apenas explique o mínimo”. Difícil, mas tentarei espalhar uns “miolinhos de pão” antes, rodapés numerados com explicações, não sei se em todas o êxito será mais que linha.
           As idéias do livro vão rabiscando desenhos, imagens e opiniões. A decisão de escrever começou a bordo de um avião e aventura maior seguiu pela internet, encaminhando crônicas aos jornais, aos amigos, aos desconhecidos e logo vieram novos amigos que contribuíram em muito para o sucesso desta obra. Alguns e-mails ficaram.  Que eles onde estiverem façam a introdução do meu livro! As crônicas do Dr.Guto foram surgindo e agora mais vivas estão: pertencem a Literatura.
                       
            Rio de Janeiro, 29 de março de 2005.





          Não sei quando resolvi começar a rabiscar idéias e imaginar-me um escritor, nunca imaginei, lembro apenas ter sido numa monótona tarde no escritório modelo da faculdade que surgiu um primeiro texto que recordo... Os anos passaram até que um dia, a bordo de um avião da Varig sobrevoando os Andes, vendo a imensidão da natureza que nos cerca, lembrando das passeatas que fui e tantas pessoas anônimas que seguem,insignificantes seres e pontos prateados que voam, decidi que escreveria... Exato ano de 2000, virada do século ou mais um século, ainda assim, descontraído atraso de três anos até que realmente rabiscasse rápido o executivo de atropelar idéias. As datas são invenções dos humanos e seus calendários solares, em agosto de 2003 escreveria uma segunda crônica: Carpe Noctem, e encaminharia aos amigos virtuais de presente. A partir de então, surgiram sem regras ou muita lógica,umas sessenta crônicas do cotidiano e situações vividas, até o lançamento do 1o E-Book pela Freitas Bastos em 2010... Poucos compraram e poucos leram e ainda retirei do ar para revisões gramaticais e assim ficou... Tenho que republicar de novo e divulgá-lo hehe O 2o livro já está pronto e  outra vez a iniciativa corre devagar, tentarei resgatá-los dos arquivos eletrônicos em 2013 e deixá-los a vocês, leitores. Me cobrem! ) 

Dr. Guto  29 nov/2012

quinta-feira, 11 de outubro de 2012


FARAH DIBA

  
           Enganados pelas situações de sorte, desdenhamos avisos e sempre desconfiamos demais. Chegam, às vezes, com lágrimas insistentes no batente da porta e geralmente estamos dormindo no quarto ao lado... Profecias anunciadas que ferveriam as contas de um travesseiro morno, em calendários arrancados e dias reclamados. A maioria das pessoas pouco têm, muitos nem conseguem ter um lar... E o que importa neste mundo? Ser bonito, morar bem e ter dinheiro, valores enlatados goela abaixo. Mark Twain talvez quisesse reportar-se aos poucos insones que abrem as pálpebras sem medo!
           Estava preparando-me para esvaziar a última gaveta de uma mesa metálica com tampo de vidro 18mm, resistente às manifestações inesperadas de quem quer que aparecesse, algum  fantoche esporádico alardeando demissões, por exemplo. Em certos momentos de desequilíbrio total, quando aparecia o próprio diretor em seus ataques histéricos, pensava que nem aquela barreira de sílica verde moída e cozida em altas temperaturas resistiria. Pelo menos naquela solitária sala muitos sapos e impactos éticos foram devolvidos! Assim como nunca ascendera, preparava minha retirada: em poucos minutos tomaria o trem-de-prata em direção à cidade de onde nunca deveria ter saído... Levaria apenas objetos pessoais: um capacete do Senna, um mapa do Brasil em gemas com porta canetas e um notebook, quando suavemente na porta, encostada pediu licença e entrou: “Doutor, estou tão chateada com sua decisão, por que o senhor vai embora?” Curiosa hierarquia, ela era a senhora e um jovem de 30 anos chamado como tal pelo tom triste de quem arrisca uma aproximação, após descontraídos dois anos. Ficou parada, exigindo uma resposta: por que as coisas têm que ter sempre um motivo, explicações? Emoções de sorte raspam sentimentos! As de azar nem menciono. Era uma funcionária exemplar, onde careciam exemplos de virtudes, porém, os que geram lucros são diferentes. Uns apressados no atraso; outros pontuais e medrosos que imaginam-se eficientes. Poucos sabem não ter brilho. Faltam idéias que simplifiquem o óbvio: respeitar os colegas! Distribuir pelo menos um pouco as riquezas acumuladas neste mundo. Ela raramente se atrasava quando presente, informal ou bem alinhada, se necessário fosse ficaria após o expediente sem reclamar, atenta, redigindo rápido. Falava francês e espanhol comercial. Trabalhara numa joalheria presente em muitos aeroportos por quase duas décadas e agora secretária Sênior de um experiente Diretor Executivo, por raras vezes, auxiliando-me na tarefa de intruso. Havia uma outra nova até cursando MBA, longe se comparada a ela. Sim, algumas pessoas realmente têm classe, seja no trabalho ou na vida pessoal, difícil explicar, talvez pelo vestir ou falar ou porque respeitem os mais humildes com atitudes concretas, era assim. Respondi: “Que bom vê-la nesta sala, me fale de Farah Diba!” Surpresa, baixando o fino óculos branco indagou: “Quem? A Imperatriz do Irã?” Sorri pela curiosidade de muito ter ouvido por terceiros e nunca perguntado: “Isso! Ou prefere aquela Diva do cinema? Alguma cliente roqueira, de quem quiser lembrar hoje”. Enquanto vinha em direção à poltrona carregando inseparável pasta transparente no braço direito meio que colada ao peito, voltaram as palavras de um modesto faxineiro, que certo dia, numa rua bem próxima ao Parque Lage no Rio de Janeiro, me falou do nada, varrendo a calçada: “Seu Guto, o Sr. que mora na Lagoa, sabia que neste prédio aqui morou a Fernanda Montenegro?” Ainda surpreso alimentei o diálogo: “Mesmo, e você gostava dela?” “Quem não gosta de uma atriz como ela!? Sempre nos tratava bem, não era metida!” Surpresa maior: disse que poderia ser analfabeto mas sabia “identificar” o comportamento e as pessoas, disse que morara ali vinte e cinco anos antes e nem poderia recomendar-me assistir Central do Brasil...
           Indagou curiosa e com olhar de quem mergulha no vago pensar: “Por que pergunta agora? Foi passado, que medo que tive!” Ora, por que medo? Começamos a conversar: “chegou de repente acompanhada de uma consorte,tão simples, sentou-se calmamente e disse admirar as jóias brasileiras. Horário de almoço e eu sozinha com o gerente (a outra vendedora de licença médica!) nem sabíamos quem era...”. Continuou fazendo seu trabalho até que o telefone soasse e o colega voltasse desnorteado, colocando-se a total disposição, desculpando-se pela carência de funcionárias... Fechou a loja e autorizou que buscasse os cofres mais Vips. Lá fora seguranças iranianos e discreto movimento de uma São Paulo, ignorados. Foi desvendando o ocorrido dando ênfase à simpatia de Farah Diba, que falava um francês impecável, sem sotaque e ficaram pacientemente reluzindo mãos femininas ou espalhados sobre a mesa, quase caindo, os lotes mais caros que imaginassem. “E por que o medo?” Insisti. “Ah! Era tão nova e inexperiente e todas aquelas jóias ali, juntas, tão valiosas e exclusivas e o gerente ora trazendo ora em pé feito dois de paus; jamais mostrara tantas e de repente, um colar de safiras cravejado de diamantes deslizou por minha culpa, indo direto ao chão! Fiquei tão nervosa!” Quebrada era muito valiosa aquela peça... Ela rápida abaixou-se e apanhou o colar sobre o alto carpete, entregando-o a quem preferia vê-lo quebrado: lembraria Persépolis... "Experimentava sem pressa e conversavam em farsi, o que nada entendia, no reflexo dos espelhos". Levou quase que todas as coleções, assim como quem simpatiza com alguém ou algum país e não procura motivos. A comissão recebida foi suficiente para compra de um apartamento de sala e dormitório (com garagem), no bairro de Santana, sobrando ainda valores que possibilitaram segunda viagem a Portugal, de um jovem e apaixonado casal, pela Varig. Ouvir estórias de alguma época, acerca de personalidades, dividindo água mineral em copos descartáveis - madura amiga. Às vezes, a sorte traz companhias sinceras que nenhum trabalho compensaria conquistar. Traz dinheiro também e pode nem importar, uma década depois.  
          A diferença entre viajar numa suíte sobre trilhos ou em cabine comum é uma sutil cama de casal! Claro que qualquer beliche ou poltrona com visão de mundo movendo-se pode servir. Mas justiça seja feita: nada como dormir agarrados com um balanço constante, sem pressa de chegar a lugar nenhum... Procurem a sorte e durmam sempre com ela! Senão viverão deprimidos como o , guardando dinheiro como chatos e se espalharão apenas com o espaço. J

                                        06 de abril de 2004.
                                       Abraços do Dr. Guto
          


domingo, 2 de setembro de 2012


ORDER, ORDER, CLINTON! )


               Obama, Obama, Obama! Me peguei gritando sozinho a esperança que mistura as vozes do Quênia com as ondas de rádio que levaram um tição com nome árabe a estudar vindo do Havaí, embalado por hits como <its now or never> e foi pegar onda num pranchão inventado na Califórnia, parafina sobre fibra em Pacific Beach ou Venice de patins ou terá sido transportado na fronteira dos bondes de San Diego? Poderia ter subido degraus ao vale sagrado no Peru, onde as vagas também são fortes, preferiu um lual de cascatas e um refúgio de ilhas no meio do Pacífico - criou-se um tubarão!
             Tubarão branco e preto por certo e bem voraz em moderar seus discursos com o gingle do jazz que chora seus mortos, com o sanduíche de rosbife e queijo melado do leste, com um vice do primeiro estado rebelado, Delaware, de sétimo mandato e que presidirá agitada casa, onde turistas brasileiros também ouvem “questões de ordem”... Aliás, de queijos cheddar e cottage em crises eles entendem bem quanto franceses, na quantidade digo, pois as prateleiras de muitos Publix markets são fartas de tudo, potencialmente industrializado. As rodas do Mississipi não param, esquiam em Vermont na suave onda democrata, e de um extremo a outro Washington, esquilos escalam totens e fazem companhia às pacatas corujas! E não entendem a Florida de tamanha confusão em anular votos de neocubanos e chicanos – um pêndulo de turistas e aposentados endinheirados e que buscam o sol! Cédulas de papel ainda Mr. President? Aqui já votamos 99,9% com urnas eletrônicas... A vitória pós-Bush foi estrondosa, uma revanche do fiasco de Kerry diante dos buracos de Saddan e sua cabeça pendurada. Mas, Bush se foi em meio à crise econômica que põe a leilão casas de trabalhadores até no deserto de Nevada; no meio do maior entroncamento ferroviário do mundo, na Chicago dos netos de Al Capone aonde iam todas as rêses e bombeiros, em abatedouro, surgem esperanças no terraço do Sears Tower, ex-edifício mais alto do globo, superado pelas gêmeas Petronas em Kuala Lampur / Malásia, onde por curiosidade, Barack passou próximo a infância, após um casamento desfeito de seus pais - bela aventura do menino no sul da Ásia, morando na Indonésia muçulmana. Dubai também já constrói três super altas, oásis ocidentalizado dos petrodólares. Um terço dos tratores do mundo estão lá, e daí? Por si seria apenas um cidadão advogado, negro, vencedor, pai de duas princesas e casado com uma mulher inteligente e forte (batalhou e se formou em Harvard, a esposa também advogada que ganha cem mil vezes o que a nossa inútil Marisa jamais sonhou com um cartão corporate). Não entendo muito de Estados Unidos, mas acho que Obama pode se tornar um ídolo que a mídia escolha contra o ódio disseminado. Agora os desafios se acumulam, a vitória foi retumbante no congresso que garante uma situação de aparente tranqüilidade, como se existisse tranquilidade em momentos de crise em algum parlamento desde o Séc XII... Humanos são a crise? As tortas de amoras negras continuarão a explodir, porque existem mais armas e fuzis registrados que cidadãos votantes e são conscientes que dizimaram seus índios. “Yes, we can!” Continuam mais a poluir que reciclar, investem maciçamente no espaço e esquecem a Terra e paradoxalmente, por que paralisar os ônibus espaciais? O Alaska continua o Alaska, lindo, inexplorado e degelando, as usinas nucleares que não são poucas trabalham a todo vapor e nenhum fellow PhD de Columbia ou Stantford, nenhuma professora Condolezza saberá que futuro terão os lixos radiativos ou como evacuar uma metrópole às pressas, não sabem a velocidade da radiação, devem ir para Guantánamo ou para a Amazônia... Furacões e tornados continuarão a devastar o sul das mentes e nenhum pacote de reconstrução de US$700 bilhões deterá o clima, alertou o ponderado e adorado líder Bill Clinton. Ou mudamos as mentalidades e começam a reduzir a produção desnecessária ou a falha de San Andrés ainda pode submergir a golden gate! Um estado que apesar de mais rico e da tradição liberal, quase sempre em azul no mapa, proibiu o casamento gay - as realidades de Sacramento ou do interior caipira não são as de L.A. ou de uma São Francisco meio oriental, um retrocesso. Os fuzilamentos de Utah voltarão em nome dos polígamos nihilistas que ainda não aceitam a aculturação? Os drogados, suicidas e estudantes armados em sala serão estatísticas frias de uma sociedade extremamente acelerada em cartões de plástico, consumista e histérica? Onde ricos e pobres têm iguais chances de vencer, mascando chicletes com um cupom de sopa nas mãos? Lembrando-se da comida caseira da Geórgia feita pelas escravas? Irritando crentes do cinturão do Alabama, Tenessse, onde vendem-se igrejas como vendem-se bonecos do novo presidente defecando e acreditam que é um bom negócio? Elvis não morreu, estão matando é a Amtrack porque era exemplo de uma classe média cheia de sonhos nos anos 50. Hoje parte de Wall Street é drogada e moralista, almoçam pizzas sobre gráficos de  bilhões, gritando com olhos arregalados e a base de antidepressivos! Só pensam cifras e não ajudam sequer irmãos. Ouvem hip hop enquanto compram uma 9mm na esquina? Não! Volte a América Amiga de Nat King Cole, os comportados irmãos Carpenters, preferimos uma maravilhosa orquestra com duetos de Dione Warwick e Burt Bacharach! Preferimos a voz de Frank Sinatra no Maracanã lotado! As ondas do rock americano, o cinema de tantos Oscars, atrizes e diretores, as latas de sopas campbell's! Preferimos a cortesia nos aeroportos e a amizade entre os Povos!  Isso aí, vistos de turista valem por dez anos se lá quisermos circular de yellow cabs. E por culpa de árabes terroristas esperar em filas e ter até a sola dos sapatos vasculhada em busca de pó e artefatos explosivos? Teremos que passar em raio-x até do cérebro para lerem o que pensamos?? Somos latinos, somos povos de PAZ! Precisamos mais que reduzam parte dos juros! Precisamos de parcerias novas! Aqui só se produz 5% das pesquisas de conhecimento! Melhor esquecer Gotan City? Que o Batman vença o Coringa e dialogue com o Google Translator. Que a mulher gato mergulhe no mar turquesa de Angra dos Reis. Venham ao Rio de Janeiro algum dia! Conheçam as jangadas do Ceará, os quilômetros de coqueiros da Costa dos Corais, um tucunaré na folha de bananeira...
              Sim, vou encerrando. Foi bom desabafar, escrevendo a uma amiga americana que me confidenciou pelo telefone: “Obama is an ilusion!” Engraçado, esperou quase duas horas em pé para votar nele e me fala isso. Será outro Kennedy, uma chama iluminada em Arlington? Ou será a luz de uma esperança reunida? Em muitos lugares desse mundo WE BELIEVE YOU! Que faça a Paz por onde passar! Que nos traga economia mais solidária e segurança, enquanto avós e crianças têm medo e vão dançando felizes na borda de vidro dos cânions ou seremos todos crianças do Quênia, dançando ao som de Bob Marley ou Grace Jones?

Dr. Guto deixou de encaminhar esta crônica ao embaixador americano, em 2008. Reviso rápido e mando hoje direto ao Mr. President







quarta-feira, 22 de agosto de 2012



PRESO EM PIRANDELLO


           Ontem foi terça-feira, dia entediante, imprensado entre o início de semana e o metrô, dia calorento, abafado por um verão em crise e uma ida ao teatro. Se me perguntassem  por que terça? Ora, o mundo é vinte quatro horas no ar, sempre intenso, ardente, nós que esquecemos e passamos um terço da vida dormindo quando já iremos roncar muito mais pela eternidade...
          Então os anos passaram e quando fui ligar para uma empresa carioca, a Câmara de Arte, que divulga, apóia e permite público aos espetáculos, reclamando de um raro atraso dos ingressos, a simpática atendente falou: “o que o senhor prefere, apanhar aqui no centro ou que mandemos pelo correio? Mando agora, pois o senhor é quase fundador..." Seria um diálogo simples, se não estivesse no presídio dos novos tempos - nos escritórios, fábricas, residências, estamos os idiotas plugados, em busca de alguma coisa - uma informação sobre a crise, um extrato bancário, uma cama nova, ou um ingresso extraviado pelos classificados do tempo.  Estava a falar com a moça e a ligação caiu no chão frio de cerâmica que reveste os senhores, fundador de que? Que me lembre quando era estudante tive um surto e ajudei a fundar um partido político, que se afundou como todos os outros na mesmice. Da arte não sabia ter ajudado, vou ficando feliz em ser platéia, em escrever, ah, este país tem pouca memória: conseguimos conversar com familiares e montar uma simples árvore genealógica? Resgatar empresas do início do século - as Perfumarias Granado, uma Confeitaria Colombo, a Antarctica Paulista... A própria OAB, terá completado 70 anos? Um país por fazer e pensamentos interrompidos, por uma centena de cabelos brancos, metodicamente arrancados. Rediscando vou me lembrando do beijo de Fedra, em Renata Sorrah e Fernanda Montenegro, das brincadeiras do Jorge Dória em O Avarento e inúmeros  palavrões de Moliére, dos ensaios poéticos de Afonso Penna, Machado de Assis tão romanticamente puros, que assistimos no teatro de arena do Jóquei Clube, bem colado à pista das corridas, semelhante à vida como ela é de Nelson Rodrigues, outro gênio. Montagens de Sheakspeare, tantos autores nacionais maravilhosos, nem lembramos os nomes! Quantos teatros nós fomos nesta amada cidade, muitos já fecharam: o do Copacabana Palace, por exemplo, gostava muito, principalmente de comprar amêndoas no café que existia (ou seria uma lojinha na entrada à esquerda?) Ficávamos ali, entre um café e um guaraná caçula, a aguardar os intervalos de elegante lugar... A peça? A Ratoeira. Lembro dos que ainda vivem também - o anfiteatro do SESC Copacabana, em círculos, com belas poltronas azuis, super moderno, a uma quadra da praia, ou aquelas escadarias em vermelho do Villa Lobos, homenagem ao nosso pianista e compositor de charuto. O bom e central João Caetano, o magnífico Municipal! Óperas, a Orquestra Sinfônica Brasileira, entre tantas danças, e o medo de cair lá do balcão? Sempre um bom perfume, espetáculos no consulado francês, musicais em Nova Iorque, São Paulo, Londres, Buenos Aires (na Corrientes, claro), comédias nos shoppings, nem lembro mais, viva o Theatro Amazonas! Somos um produto da cidade intelectualizada, diversão uma vez por semana; e se lembrasse dos filmes (escrevia numas fichas os filmes assistidos em vídeo-cassete, parei pelo número quinhentos) e vieram as tvs a cabo a nos prender mais, os dvds. Pelo menos o cinema sobrevive nos combos de pipoca, quanta cultura a nos envolver, e o mundo é intenso, ardente, estúpido! Desculpem, ontem foi domingo e estava na sala Marilia Pêra, assistindo a uma peça de Luigi Pirandello e resolvi sair, não agüentava mais estar ali, não sei, levantei! Preciso  me afastar desse mundo de  trabalho urbano, de diversões urbanas, de trânsito, ligações, problemas e mais problemas, quero apenas ver o sol bater sobre o deck e mergulhar, nada mais. A porta não abre, não posso gritar que abram como o autor faz com seus personagens! O barulho atualmente me irrita, não consigo... Volto resignado ao assento do tempo, o metrô corre lotado, os guindastes levantam os fardos, o sol escalda fileiras de caminhões, talvez ir ao teatro ou cinema no meio de semana seja o charme das metrópoles, pois pequenas cidades vivem presas a uma tela de mídia; suado, imóvel sobre as palmas espero Cláudio Cavalcante finalizar de branco e cartola e animado elenco. Ótimo ator, vereador nem se reelegeu, sofrerão mais os animais.
          Se Pirandello programou seu funeral na juventude e exigiu que suas cinzas fossem jogadas sobre o caos, aliás, Chaos, vilarejo na Sicília onde nascera, queria ser diferente e viver a maturidade sobre o azul do mar, pelo menos ontem, queria abrir a porta da prisão e não deixaram! O mundo dos vivos oprime, que por mais que queiramos ser os personagens que pensamos serem nós mesmos, é um engano, apenas o destino nos dirige. E a liberdade é uma farsa quando a porta está aberta...

Rio de Janeiro, 02 de fevereiro de 2009.
Dr. Guto é um jovem senhor que vai ao teatro.
    


sexta-feira, 22 de junho de 2012



VOCÊ TEM UM GRAMOPHONE?


          Domingo fomos jantar no "Outback", ou melhor, quase fomos; por quê? Sabe quando você sai para ir a algum lugar e de repente acaba não indo? Pois é, não que o restaurante fosse ruim, pelo contrário, é um estilo de ranchos australianos misturados a ranchos texanos: comida farta e saborosa servida em um ambiente tipo saloon na Barra da Tijuca ou no recém-inaugurado do Shopping Off-Price. Num diálogo repentino, sugeri comer nosso “atum light” * com alface quando chegássemos em casa e sem maiores polêmicas, decidimos economizar nossos reais. J
          Um domingo no Shopping seria tão idiota quanto votar na chapa Rosinha / “gordo”, que foi multador profissional... Mas, felizmente fomos salvos por uma exposição de rádios antigos que acontecia. Por alguns minutos, ficamos apreciando aqueles rádios enormes: Telefunkens, Philips, Philcos, outras marcas, como se estivessem vibrando em chiados e nos levando no ruído do tempo a pensar em tantas coisas... Pensei nas conversas que tinha com uma velha senhora, pernambucana radicada nas Alagoas, casada com um caboclo na foz de um velho “Chico”, que lhe roubou nas correntezas um filho de treze anos, rio que já levara o irmão caçula Miguel (preferido) para a Revolução de 30 e nunca voltou... Seguiu em frente, acordava diariamente bem cedo, quem sabe era parente distante de algum soldado, ferida nos galeões de Nassau? Formou quatro filhos, ainda que estudassem longe (um contador e três enfermeiras). Ela tinha um rádio daqueles sobre uma estante e durante a guerra ouvia os alemães gritando e com medo corria a trancar-se no quarto. “Como ter medo vó? Eles estavam tão longe”, ela alva respondia, me fitando com aqueles lindos olhos azuis, mais ou menos assim: “E quem garantia, na época, que eles não chegariam aqui? Eram as vozes que me davam medo filho, as bombas que ouvíamos...”
          Quantas belas e vozes famosas também cantaram por aqueles rádios! Sei lá: grandes notáveis fantasiadas em saltos, Nora Ney, Dalva de Oliveira, Ângela Maria, tantos concursos e piadas que paravam o Brasil! Orlando Silva, Silvio Caldas, Francisco Alves (esse artista se foi como JK...), sim, estou viajando insone nesta madrugada, escrevendo rádios ignorados em cantos, assim como muitos “senhoras e senhores” que se emocionariam se vissem uma outra exposição... Lembrar da Tupi, da Mayrink Veiga, da grande rádio Nacional naquele prédio que já foi o mais alto de uma capital em frente ao porto, como se avisasse aos navios guiados por frios “práticos” ou ao peso dos ancorados: aqui também existe cultura, também somos grandes, fomos o terceiro país do mundo a massificar a Televisão! De repente um gramophone, nossa! Que obra de arte, perfeita para animar os cabarés da época, ainda que fossem perseguidos por pedras derrubadas de uma Igrejinha rica em azulejos holandeses. Que construíssem o Forte preservando-a lá, juntos, na mais bela praia urbana do mundo! Cabarés repletos em chapéus, ligas femininas e fumaça de batom: seriam os eternos cachorrinhos da Victor’s os culpados? J Deve ser da década de 20 ou será mais antigo? Você tem um gramphone em casa?... Mais adiante uma vitrola (daquelas de armário com lugar para guardar discos de vinil e caixas de som embutidas), claro, essa era da década de 60, me lembro quando era pequeno de uma igual na casa do Tio Pedro em Birigui/ interior de SP, mostrava-me um televisor preto-e-branco, acho que Colorado RQ: “esta não é americana, viu carioca?”.
          Valeu a inspiração! Por alguns instantes nos distraímos naquela meca de consumo e cartões-de-crédito, com seus McDonald’s em qualquer lugar. Não compramos nada nem comemos a “fried onion” (uma entrada deliciosa) e valeu muito aquele final de noite no Off-Price, perto da sede do glorioso Botafogo Futebol e Regatas, porque foi cultural, inusitado, rico e inspirou um breve texto que mando aos quatro ventos da Mitologia, ouvindo FM na madrugada...

* Receita no livro.

                                                     Dr. Guto, Primavera de 2002.
                                                                  

domingo, 17 de junho de 2012

GUERRILHEIROS DANKE

                                                                     

GUERRILHEIROS, DANKE!


          Quando passamos por aquele sinal tão familiar, nos observa um templo transparente ora seguindo pela direita, ora seguindo à esquerda. Independentes direções, a volta será sempre mais difícil: podermos ou não voltar, resgatar atitudes em partidos sentimentos. Voltamos e o mesmo lugar e pessoas, como postes de setas guerrilheiros, já se foram em despercebido movimento...
      Caminhar rápido pela fuga do stress não equivale a carregá-lo consigo, às vezes, vou de bike, desviando de corpos por uma das poucas ciclovias existentes na cidade: entro no Jardim de Alá, encontro uma “índia” na orla e sigo circulando até a Pedra do Leme. Parar um pouco, beber uma água-de-côco deveria ser programa de todos, ainda que não assistam ao espetáculo das ondas sobre areias que protegem e aproximam o cimentado cinza dos sonhos de Yemanjá... Não estava lá nem era noite, quando um helicóptero platinado decolou, distanciando-se no espelho d´água. Naquele deck, quantas vezes acompanhei de manhã, um “Globocop” partir iluminado rumo às notícias; agora, apenas outra aeronave descansava sobre o verde, no vai e vem que fascina crianças e crianças grandes! Voltei à caminhada. Ao passar pelo heliporto um casal de meia-idade saiu das cercas de arame e aproximando-se, um senhor branco começou a acenar como se fosse para a cadelinha que guiava... Sem cumprimentos ou ao menos reparar que eu usava óculos “Yves St. Laurent” perguntou com um mapa nas mãos: “Hey, where is this?” O “this” era o Parque do Jardim Botânico e mudando o idioma orientei: “Go up the street and always see at the left, when the wall of races is finished, turn on the left carefully, walk a little more, another left: so you will be able to find the true green on the right”. J  Ficou me olhando como se a dica fosse de um “ET”? Resolvi ajudá-los e sugeri: “If you need help, please join us, we walk towards there”. Aceitou relutante e seguimos caminhando sobre poças de água e no espelho, garças brancas. Curioso perguntei de onde eram: Suíça. Vôos quase diários pela Swissair a São Paulo (por coincidência a pioneira companhia aérea a romper fronteiras ideológicas). Perguntei se estavam gostando do Brasil: a senhora respondeu sim, ele desdenhou palavras “poor and violent place”. Com raiva fiquei em silencio, depois retruquei lembrando as estatísticas de suicídio na Europa... Silêncio. Arrisquei outra vez: “and about Rio, do you like it?” Esperava uma resposta, não uma provocação: “a dirty city!” Foi o limite, estava prestando um favor e sendo agredido com um ataque de limpeza! Respondi seco: “Go to Niemeyer’s Museum”. Acho que pensou que iria xingá-lo e continuou perguntando o que havia de especial lá? Respondi: “You can see the sun and beautiful above the dirt”... Perguntou como chegavam lá: “by taxi is faster”; ele sorrindo, “A thieve taxi driver?" Agora estava furioso e não hesitei em fulminar: “ladrões são aqueles que financiam veículos!”Abriu um sorriso sem graça. Calados continuamos uns cinco minutos até que a mulher quebrasse o silêncio: “wherever else near, can we go out of Rio?” Irritado com o marido dela ou amante, sei lá, pensei ser injusto não responder à simpática senhora, nada tinha haver com ele. Sugeri Paraty, explicando que lá também morava um navegador brasileiro chamado Amir Klink: a lonely navigator who dare waves and sharks, eating caned food in a little wessel, to cross South Atlantic”. Lá poderiam visitar casarios coloniais e cruzar “no Saco da Velha!”Com saveiros e mergulhadores de Ilhas, numa das quais habita o admirado navegador. Nesta hora o velho me surpreendeu: “from they took the gold”. Interessante, sabia este detalhe... E rápido completei: “Today gold and petro-dollars often go to Swiss Banks, only brazilian citizens have more than US$ 5 bilions there”. Sob os olhares curiosos de uma cadelinha vira lata, chegamos ao sinal do clube naval. Ficou me olhando como se nem quisesse despedidas, perguntando se era político ou filho de um...? Naturalmente respondi: “apenas ainda voto”. Ainda parado disse-lhe que aqui tínhamos modernas urnas eletrônicas e um sistema bancário de “invejar” o 1º Mundo. Em exclamações de surpresa disse que esse País era surpreendente! Que nunca pensara que alguém do povo escolhido aleatoriamente falasse sua língua tão bem! Os dólares que mencionara eram muito mais... E quando voltasse à União Européia ou a isolada Suíça falaria sobre esse "tão educado" encontro e talvez mudasse alguns conceitos. Ao longe, o templo transparente de São José já reluzia sob um sol nublado.
          Concluiu com um sonoro Danke 1, dizendo-se hospedado em hotel tradicional na Praia de Copacabana, administrado atualmente por um grupo inglês. Acredito, já devem ter se hospedado pelo mundo e nos melhores hotéis da Índia. Mesmo assim me despedi deles com cortês aceno de mão, no anonimato de quem escreve, rumo ao próximo sinal. E claro que esse diálogo não foi em Alemão, traduzi para vocês. J

1 Obrigado em alemão.

                                                                  Dr. Guto
                                           Rio, 23 de outubro de 2003.
                                                                 


UM PRESENTE


          Aniversário de uma guerrilheira que pescava com o avô nos anos 50, nesta mesma Lagoa. E que ousou quebrar “dogmatismos” no exílio, e mulher, a Teca exigiu uma geladeira para conservar alimentos! Logo, os compañeros pararam de discutir (objeto de consumo burguês) e correram para comprar uma... Hoje, alguns são ministros influentes. Tornou-se executiva e ajuda tantas pessoas. Fala de cooperativas, de catadores de lixo, de fazer doces com cascas de frutas, sempre assuntos diferentes para mim. Um presente conhecê-la. DEDICO ESTA CRÔNICA à Tereza Cristina Denucci Martins: uma feliz avó. Obrigado por vencerem! Vocês também me ensinaram a ser tolerante. 

                                                                 Tereza Cristina (in memoriam)


sábado, 2 de junho de 2012

FESTA DOS 40


Festa dos 40

Não sei se quem lê já completou a lista ou mesmo rasurou a mão pra não entrar, a listagem é dos anos que caem e voltam como boliches. Você corre com os dedos fisgados e arremessa a bola e o taco se solta, a velocidade diminui e quem caiu foi de quatro e zero ponto!
Algumas datas são marcantes, números redondos: passou no vestibular, não formou, empregado casou, desempregada engravidou, daí em diante vou me ater a não seguir a falta de lógica. Claro que muitas festinhas e barzinhos rolaram, muitas cubas-libres ficaram aguadas, bebeu-se muito gás e comeu-se muito brigadeiro grudento, quantas abdominais hein? Quantas deixou de fazer e noites de jejum, metodicamente, indo à malhação até aos domingos! Pois é, quantos celulares mudaram? PCs de mesa, em quantos quartos dormiu? Melhor entrar na comilança, chamar os velhos amigos e dançar ao som de discoteque nos Cassinos Royales e música eletrônica, assim ninguém lembra ou briga com a MPB. Os convidados serão as rugas que irão chegar e sucessão de micos que comerão suas bananas, essa não entenderam, micaretas, abadás, bananas? Algo haver com a macaca Chita e a pressão alterada? Captaram? Uma briga aqui, uma promoção negada ali, meia dúzia de fios em chumaço e o trabalho virou rotina. Meus caros, nesta idade ou já se tem dinheiro ou não se terá mais (exceção às megasenas). Sei que estou radical, porém nem cogitei o estado civil dos aniversariantes, são relativizados: casados, casados nem tanto, em processo de desunião, separados, bibas velhas, solteiras convictas, putanas por vocación, solteiros pageadores de pais (mães na maioria), pegadores desequilibrados, fumantes, alcoólatras, assexuados, viciados em bíblia e cultos, duendes em mesas, cartões de crédito e carros chamativos (excluo bolsas, sapatos femininos, perfumes importados, cremas anti-arrugas, chocolates e vouchers, para não alongar a lista a 40.000 itens...) Vamos lá, calvos e cabeludos vão andar de “banana boat” em Araruama! Peguem as pinças e contem os pelinhos brancos, na barba óbvio! São centenas, alguns na região púbea... Assistir e falar mal do BBB também distrai, ganhar 01 milhão é problema em qualquer idade, mas coroas geralmente gastam bem ou vão se ferrar pendurados num ônibus circular! As doenças são psicossomáticas e os livros de médicos já bem folheados, ressalvas às dezenas de exames feitos, de eletroencefalogramas ao colesterol total e livre, de psiquiatras ao que se faz lá no fundo do ânus ou colo do útero... Que medo hein? A roupa dos “enta” um corpo nú meio pelancudo, meio malhado, abissal quando horizontalizado.Vitaminas e sucos de açaí podem ajudar as mentes cansadas, o zumbido no ouvido não, não passa, a tosse rouca não passa, a poeira negra sobre a lataria dos carros e dentro das suas narinas não passa; os óculos de leitura, a preocupação com os filhos na moto, no show da madrugada, no motel? Celulares desligados. Preocupaçao com o futuro, com o vício das redes sociais, as contas a pagar, o complexo de corno (muito comum nesta idade), a novinha do pastor, a ex-mulher do próximo, por último a sua sentada na mesa da janta e calada!Haverá restituição no Imposto de renda? Malha fina rasgando seu prazer e de nada adianta querer menino ou menina, eles mudam o sexo depois, mudam suas verdades, dançam into the fire, se emancipam e terminam distantes do trio elétrico, pulando e sapateando na sua cabeça!

Pois é, COMPLETAR anos sem dinheiro é uma merda! Com grana e sem festa de gala, há muita diferença? Sem festa, cá me vejo na tela um chapeuzinho de tolo e começando a ser coroa, burrinho, sofrendo no metrô, cheio de compromissos e problemas, comedor de letras e queijo coalho, prisioneiro feliz até o trânsito melhorar? Felizes mesmo? São aqueles que completam 40 graus de praia! :)


Dr. Guto quer de presente um quiosque na Av. Atlântica...

domingo, 27 de maio de 2012

HILOS AMASADOS



Hilos Amasados


El Ballet de piernas era irresistible. Piernas torneadas y sensuales diseñadas en placer, mezcladose sobre puntos reales o imaginarios de llegada. Sólo en aquella ruta de hilos, cinco sociedades de chicas, anonimas, disputaban paralelas el balancear de rodillas y muslos comportados. Vendian servicios y ventajas apretados por el negro de la noche, o en café rápido, en el puro azul de “Pontos-G” americanos, aproximandose en grados, no por el sentido de los ojos, y si por la rigidez del calor que brota en la lycra del propio capitalismo!

Cruzada en aquel banco, en la direccion contraria al corredor, continuaba seduciendo al telefono o seria interfono? El tono seco de ordenes solamente era quebrado por instigante sonrrisa. Observador protegido, por las primeras planas de O Globo, pense: “entre tantas comidas especiales, estaria enamorando alguien? “Como era eficiente!  La conversacion profesional, de quien trabaja rehen de la expectativa de los hilos...Alguién como nosotros entrelazados a los millares, siempre intentando inventar los hilos de la eficiencia. Somos amparados por el funcionario Directo: que las cosas funcionen!Sigan el camino de la normalidad.. Y cuando cansados, son hilos amasados? Y cuando exprimidos los hilos de tanto uso, calientan y se rompen? Sobrando apenas los gritos de una luz roja en el cercado luminoso. Después otra y otra, chips y radares apagandose en riesgos que se encierran en el centro! Con olor inconfundible del peligro: hasta mismo el más experimentado comandante se rinde a las fotas del frío y a la expectativa del miedo...

Sobre algun punto del Atlantico, el DC10 seguia tranquilo, como centenas de aeronaves nocturnas, iluminadas por la cortesia que une diferentes personas y nacionalidades: chicas y muchachos bilingües, hombres y mujeres, deslizando carritos con servicios de abordo. El sólo del Brasil que nos restaba ahora, eran dos corredores estrechos, separados por cortinas y toilettes. Encuanto una joven aeromoza servia apurada un vaso de jugo de tomate cayo direcho encima de una confortable camisa blanca, de algodón , que junto con un pantalon azul royal, de casimir lavado, fueron condimentadas con naranja-rojo y picante! Apavorada como el desliz, sobre miradas de reporbación de la telefonista, no se canso de pedir disculpas e inmediatamente, vino ejecutiva con servilletas de papel absorvente. Luego acepte, medio que hipnotizado, hablando: “Lo que importa un baño, cuando se tienen ojhos verdes?” Piropeada, continuo secando con aquellas manitas suaves y labios apretados”

Dice que estaba todo bien e se aparto oyendo reprensiones del Jefe de Azafatas, encuanto llevaba um peñisco en el otro brazo  J Si, alguien que aun no conocia, en una cazaca verde felpuda, sobre una bermuda de algodón de color arena, entre otros detalles fofos; pensara haber sido una buena idea convencerla de traer alguien con nostros, al sugerir: “Porque no viajamos con una amiga suya? Un cuarto triple es más animado...” Aún iria aprender las tácticas de Lalu!  Hizo secreto eficiente de la respuesta durante una semana (diciendo que iria a gustar), y expectativas conservadoras, asistiendo “MI Bella Genio”, hasta descubrir porque en la lámpara no existia la patente de una tercera teniente, de faldas: maravilloso sueño! Además, pocas expectativas en aquella aventura: New York ya conocía. Queria un avión diferente, sin hileras de asientos, completamente ocupadas, por cabezas pegadas en dogmas de estatuas socialistas, reaccionarios aliados a las armas del capital e a la Crus de Malta!   

Bueno, después continuo el viaje en otra crónica, pues, inesperadamente, fue uno de los mejores! Valieron los tres notebooks que trajimos y, novedades, fueron revendidos en reales por el triple del precio... Pagaron los tenis, los perfumes, cds portátiles, innumeros presentes y costos de aventura, que ni me importe con la total abstinencia de piernas, ni con los únicos US$ 100 dólares que lleve en aquella semana! Lalu compro con la tarjeta de crédito. J                   

                   



                                                  Rio de Janeiro, 28/11/03.

                                                  Abrazos de Dr. Guto

segunda-feira, 21 de maio de 2012


 
ALÔ TELEMAU!


                Vi que as pessoas dormem nas conduções porque vivem cansadas, extasiadas de cumprir jornada extra e diária na labuta da vida. Passou ontem no globo repórter, sbt repórter, na tv a cabo, não lembro o canal nem o programa, porque botões de controle são apertados com tal rapidez que a memória falha. Memórias cansadas... Também ouço desde sempre que as pessoas são diferentes, uns são nervosos e estressados, outros já nem esquentam se a bomba é H ou M, e vão vivendo os dias comendo mortadela, noites comendo pão seco, que às vezes o próprio diabo amassa. Se existem Renans que circulam de Corollas, têm mansões oficiais e direito a jatinhos da FAB, nem sei por que o diabo virou padeiro, porque profissão melhor pra ele seria locutor de futebol né, não, não, pensei em outra, operador de telemarketing, terceirizado, sem direitos trabalhistas, contratado por uma Joint-venture (canadense com sede onde umas galinhas na LBA roubaram e deram endereço falso e ficou por isso mesmo), situada nas Alagoas e atendendo geral quando a linha não cai e aí já atendem do meio do Tocantins aos clientes da ex-CTB, ex-TELERJ, ex-TELEFÔNICA, ex-TELECOM, digo vendem as ações em bolsa e vira tudo ex, nem sabemos mais a quem pagamos... Agora um simples OI né.? “Oi, É O CAPETA FALANDO!” Que corta sua velox, speed, virtua, seu wireless bom ou ruim; lembrei do desenho speed racer que não tinha notebooks furtados pelo corredor x, é tudo mais ou menos assim: você era assinante, aí pelas circusntâncias da vida, deixou de ser, mas seu nome está lá em alguma lista do passado, tipo uma corrida de bulgatis na memória, em que Manuel Fangio rodopia e junto logo com mais três carros, sai da pista e atropela os incautos na arquibancada improvisada, tô rápido demais? Visualizaram o carrinho voando com um assento só e caindo sobre as pessoas? As fórmulas se aperfeiçoaram e viraram “combos” -  pipoca de tutti fruti, a água colorida que bebemos para telefonar –Alô? Alô, Alô TELEMAU, aqui quem fala é da terra, tudo bem? Eles falam nossa língua? Os operadores das operadoras, só catalogando assim, são tão educados, sério, podem ser até outros adjetivos pitorescos, burros, antas, repetitivos, mas já repararam? Quem perde a paciência somos sempre nós! Assinantes lesados por alguma coisa ainda que seja da imaginação. Ah, não estou incluindo nesse rol as histéricas e neuróticos que povoam o mundo e ligam a cada cinco minutos para números diferentes, gritando, ameaçando ir lá e chamar a polícia! Perda de tempo, eles não têm sede. Estou falando de pessoas normais! Que entretanto perdem a paciência, porque os argumentos acabam em protocolos que de nada servem. Vamos ser modernos? A questão é não falar com a assessoria, a raia miúda, porque o diabão está na linha escutando e gravando, manda até colocar mensagem para nos intimidar “esta ligação está sendo gravada, tudo que falar será usado contra você etc” E DAÍ, FODA-SE!!! Claro,gritam a maioria palavrões e gestos galantes de toda natureza porque estão Vivos! Tim Tim por Tim Tim, tenho pena de quem lida com o público! Com o outro lado do ego, um fio cortado na vila ao lado, na rua, na varanda, e lhe monitoram por GPS até numa casinha de sapê, governam sua vida, seus acessos e se chamam... Agora tecle por favor a nota desta crônica de zero a dez, e apertem os botões de controle sem quebrar!
                             
                                                                               Rio, 19/10/07.


Dr. Guto foi cliente daquele Panasonic tijolão em 92...

                   


quinta-feira, 10 de maio de 2012

TRILHOS DO ELECTRICO


Os Trilhos do Eléctrico... 
 
Passei do tempo de observar pessoas, aliás, ouvi muitas estórias e vi muitas caretas e no silêncio de quem observa cansei. Não que o boi da cara preta me assuste, bocas boquiabertas, línguas horrorosas e olhos esbugalhados me intimidem, muito menos os gritos da “toirada” ou “ataques de pelanca” dos que detém algum tipo de poder e autoridade e pensam matar o touro, esses são os piores...
Tudo bem, não cito nomes porque não almejo fama, na orla da praia eu já joguei muito vôlei, meu carro é importado e (o IPVA 2009 pago), tive Amex Gold, Dinner´s club e outros Platinum (quebrei-os em pedaços) e atualmente estou me lixando para bancos, onde abri conta em 1986 e desde então mudaram tantos os gerentes que me tornei apenas um anônimo, quando sorrindo, pedi a uns cinco anos que cancelassem o limite e transformassem minha conta corrente em simples. Estupefata a gerente da ocasião, uma moça já demitida, tentou por mais de meia hora me convencer que não inutilizasse os cartões, que não fizesse isso, que era cadastro, que era um ótimo cliente, TÃO EDUCADO! Claro, pagava todos os juros escorchantes e taxas calado, cdcs, seguros, capitalizações e parcelamentos a +15% ao mês, investimentos, factorings, se achando importante porque ficava em sala vip nos aeroportos... Não! Não preciso mais disso. Nem posso comer aqueles lanches mais! Nunca quis ser procurador ou juiz como sonhavam minhas tias, é como a música de Bezerra da Silva interpretada pelos Originais do Samba: quando falam em bolso, os poderes são iguais “não sobra um meu irmão”... As comissões de ética, para quem conhece partidos, são um piada, não funcionam nem decidem nada. Bem, não estou nem aí se venderei livros, visto que a esquerda operária, ora no poder, faz pouco para deter os privilégios dos ricos neste país. Locupletam-se! Precisa explicar? Caderneta de poupança é coisa de pobre, certo? Pois então, ricos detêm outros tipos de investimentos, correto? Erraram. 1% eles detêm todos os tipos de investimentos e representam 41% de todo dinheiro aplicado em poupanças! Se poupança serve para financiar habitações populares, seriam eles os donos dos mocambos e cubículos de concreto também? Sorvetes de tapioca comprados com cartões corporativos. Estou cansado, sinceramente. Sei lá, dizem que quando se chega aos “enta” estamos no topo da escada observando o horizonte. No Vale do Imbuí talvez ou na Pedra do Sino, em Machu Pichu, no Restaurante Giratório, numa Roda do Tâmisa, em algum teleférico em Lisboa e que começaremos a descer os degraus...O problema é descer com pressa, prefiro ir devagar como os trilhos do eléctrico, pelas curvas dos sobrados, vendo o linho estendido nas janelas, chuvas e umbrelas, os observadores em cafés e tranquilizantes, que precisam por mais a cara a tapa e procurar um bom tanque de roupas a lavar! Em vez de ficarem apenas criticando e reclamando das faturas dos políticos, trabalhem para terem uma boa morte, cancelem tudo, inclusive a assinatura do jornal (uma imprensa puxa-saco, que sobrevive de páginas e páginas de classificados de carros zeros e construtoras), e denúncias de corrupção, realmente cansativo: passarei meses longe de telejornais! Desligarei a tevê a cabo! Arremessarei meu futuro tablet na parede! Direi adeus a uma classe média ridícula cujo único medo é ficar pobre, desculpem, vão para o feirão vão, vão pagar juros durante vinte anos para adquirir um cubículo, tchau!Vou ser agregado e morar num quartinho de empregada. Nunca mais terei contas em meu nome! Gastarei meu último tostão! Demitirei todos...

O ser observador também é tropeçar na escada, é despencar rumo à serra, com luz de lampião e livros, vez em quando ao buraco de Otília almoçar: melhor, o ostracismo total! Lá onde as primeiras damas nunca farão plástica facial com as minhocas! Reabilito os cartões e peço aumento de limite? Qual saldo das minhas milhas mesmo? Me inscreverei no Twitter! Hehe

Dr. Guto tem planos de morar em Lisboa... Maio de 2009

FIOS AMASSADOS

                                         
FIOS AMASSADOS
O balé de pernas era irresistível. Pernas torneadas e desenhadas em prazer, mesclando-se sobre pontos reais ou imaginários de chegada. Só naquela rota de fios, cinco sociedades de moças anônimas disputavam paralelas o balançar de joelhos e coxas comportadas. Vendiam serviços e vantagens apertados pelo negro da noite ou em café rápido, no puro azul de Pontos-G americanos, aproximando-se em graus, não pelo sentido dos olhos, mas pela rigidez do calor que brota na lycra do próprio capitalismo!
Cruzada naquele banco, na direção contrária do corredor, continuava seduzindo ao telefone ou seria interfone? Balançava lentamente as pernas... O tom seco de ordens somente era quebrado por instigante sorriso. Observador protegido pelas manchetes calientes de OGlobo, pensei: “entre tantas comidas especiais, estaria namorando alguém? Como era eficiente!” A conversa profissional, de quem trabalha refém da expectativa dos fios. Alguém como nós, entrelaçados aos milhares, sempre tentando inventar os fios da eficiência. Somos amparados pelo funcionário Direito: que as coisas funcionem e sigam o caminho da normalidade... E quando cansados são os fios amassados? E quando esmagados os fios de tanto uso, esquentam e se rompem? Pessoas cansadas,sobrando apenas os gritos de uma luz vermelha no painel luminoso. Depois outra e outra, chips e radares apagando-se em riscos que se encerram no centro, com odor inconfundível do perigo: até mesmo o mais experiente comandante rende-se às gotas do frio e à expectativa do medo...
Sobre algum ponto do Atlântico, o DC10 seguia tranqüilo, como centenas de aeronaves noturnas iluminadas pela cortesia que une diferentes pessoas e nacionalidades: moças e rapazes bilíngües, homens e mulheres deslizando carrinhos com serviços de bordo. O solo do Brasil que nos restava agora eram dois corredores estreitos, separados por cortinas e toaletes. Enquanto uma jovem comissária servia apressada, um copo de suco de tomate caiu direto em cima de uma confortável camisa branca, de cambraia, que junto com uma calça azul Royal, de veludo lavado, foram temperadas com laranja-vermelho e pimenta! Apavorada com o deslize, e sob olhares de reprovação da telefonista, não se cansou em pedir desculpas e, imediatamente, veio executiva com guardanapos absorver. Logo aceitei, meio que hipnotizado, falando: "O que importa um banho, quando se tem olhos verdes?" Lisonjeada continuou secando com aquelas mãozinhas suaves e lábios apertados! Disse que estava tudo bem e afastou-se ouvindo repreensões da chefe das comissárias, enquanto levava um beliscão no outro braço. hehe
Sim, alguém que ainda não conhecia bem, num felpudo casaco verde sobre uma bermuda de algodão cor de areia, entre outros detalhes fofinhos; pensara ter sido uma boa idéia convencê-la a trazer alguém conosco, ao sugerir: “Por que não viajamos com uma amiga sua? Um quarto triplo é mais animado...” Ainda iria aprender as táticas de Lalu! Fez segredo eficiente da resposta durante uma semana (dizendo que iria adorar), e convidou a minha irmã! Um duro golpe no veludo azul... Agora seriam onze horas de expectativas conservadoras, assistindo “Jeannie é um gênio", até descobrir porque na lâmpada não existia a patente de uma terceira-tenente, de saias: maravilhoso sonho! Aliás, poucas expectativas naquela aventura: New York já conhecia. Queria um avião diferente, sem fileiras de cadeiras, completamente ocupadas, por cabeças coladas em dogmas de estátuas socialistas, reacionários aliados às armas do capital e à Cruz de Malta!
Bom, depois continuo a viagem em outra crônica, pois, inesperada, foi uma das melhores! Valeram os três notebooks que trouxemos e, novidades, foram revendidas em reais pelo triplo do preço... Pagaram os tênis, os perfumes, cds portáteis, inúmeros presentes e custos da aventura, que nem me importei com a total abstinência de pernas, nem com os únicos US$ 100 dólares que levei naquela semana! Lalu comprou no cartão.
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*Dr Guto relembrando, quando ainda se comprava sem fios no free shop do avião...