quinta-feira, 16 de maio de 2013

GALINHAS TROPICAIS


 GALINHAS TROPICAIS...


                       Poucas oportunidades chocam-se com os arautos da inferioridade que pensam, a priori,  serem os galináceos exclusividades das repúblicas de bananas ou vindas em périplos marítimos, direto de Angola, para infestar os carnavais e casas de fundição do Novo Mundo. Enganados lusitanos sempre competiram entre si, esquecendo as “nações amigas” e digníssimas e airosas esposas. Trouxeram ensopados de uma Santa Inquisição, que não atingiram as terras temperadas do Norte. Lá, as verdadeiras aves de rapina espalharam-se em pratos e burgos, maqueadas nos castelos ou do lado de fora dos castelos...
                Claro que não pretendo exaltar a última esposa de Henrique VIII, pois se todas tinham seus méritos, desde uma plebéia Ana Bolena, até aristocráticos pescoços brancos, cortados pelo machado de quem usa capuz preto e fala pouco: a esta  anglicana coube a glória  vingança ! Para desespero dos que criam galinheiros ou são “caixeiros viajantes” não muçulmanos. Rainhas casadas ao nascer de princesas, nada mais eram que damas-de-companhia daqueles varões assinalados que lhes desposassem no quarto, à luz morna de candieiros ou vela derretida. A honra lavava-se com sangue e duelos,  “protegidos” pelos fiéis escudeiros, que ficavam, domésticos armados chamados filhos de servos. Assim difundiu-se a Moral dos sapateiros, ferreiros, mascates e artesãos, que pelas “corporações de ofício” nos tempos Modernos, colavam-se aos caprichos da realeza. Os comerciantes mais ricos ganharam escarlates títulos de nobreza, escalando muros e torres, e tanto puxaram os cabelos de Rapunzel que surgiram as livres cidades, com suas perdições peculiares : temperos bruxos de “sete saias” e donzelinhas. Os protestantes protestavam contra as galinhas! E nas madrugadas, degustavam canjas e coxas... Os prostíbulos eram profanos becos e tabernas de afirmação masculina, onde os Príncipes calavam-se à realidade das ratazanas, correndo junto ao mijo das ruas ou cobravam ducados...
              Boa viagem pela memória, porém as galinhas que refiro-me agora, não estão soltas pelo calçadão noturno de alguma cidade, seja nos postes de Budapest, Londres ou São Paulo ou bem vizinhas daqui, na Praça Paris, no Largo do Bicão ou  apinhado de “inferninhos” do  Lido, nem estão em frente ao Restaurante Nogueira; próximas sim, onde abriram o primeiro túnel em direção ao bairro de Copacabana,  algum número  perdido,   naquele  antigo sobrado da rua do Barroso... Estavam ali, apinhadas e banhadas por mangueira, dobrada pelos braços de um português comerciante (caneta pendurada na orelha), que nem importava-se em  molhar a grade, por demais enferrujada e suja. Em pleno Século XXI, no coração de um bairro urbano e poluído, galinhas vendidas vivas aos cozinheiros. Caminhando por tão familiar calçada, lembrei das palavras de uma senhora, lá num sítio em Nova Iguaçu, perto da reserva ecológica de Tinguá, aonde íamos inocentes no fim da década de setenta, sem saber que já fora refúgio de uma luta armada brasileira, pois o pai do Flávio (com quem ia; hoje é policial federal), era exilado e cunhado da dona do sítio (modelo casada com cônsul Italiano). Lá escondiam seus amigos e trabalhava uma “preta velha”, muito rude, seguidora fiel de Escrava Anastácia; certa vez falou: “garoto, o que você está mexendo nas galinhas? Eu já matei elas.” Protetor dos animais já aos treze anos, perguntei por que torcia o pescoço com tanta força e por que  guardar o sangue numa bacia? Ela respondeu meio irritada: “garoto, é assim que aprendi! O sangue que dá gosto na comida : essa é  carne caipira”. Não sei porque diálogos surgem pelos frigoríficos de hipermercados onde compramos frangos congelados; é que tempos depois, conversando com um maitre de um vagão-restaurante, ao indagar se a carne de frango estava macia, o mesmo  respondeu-me em Inglês : “lamento, não estamos num TGV1 francês, nem a galinha é caipira”. Detalhes culinários que extrapolam fronteiras, talvez o bom paladar, senhoras e donos de restaurantes sejam os clientes em potencial daquele velho comerciante, que resiste em sacas de milho, no meio da metrópole. Têm razão.
               Volto-me às vagabundas de todos os tempos ou vagabundos, que também existem os galetos e deputados de aluguel nos classificados jornais e inúmeros sites , modernidade a serviço dos que cansam de belezas naturais e procuram provar o caldo mais quente das cidades. Capítulo a parte sobre infidelidade, são turistas inveterados que danam os cajados de pastores e freis e suas irmãs ! Traçam o que existir no underground das boates ou bares e invadem os melhores lugares hetero, frequentados pelos nativos locais. Nas choperias, na Help ou Noites Cariocas, nos Años Locos em Buenos Aires, nos Jardins paulistanos do Espaço Massivo ou Puerto Livre. Fico por aqui para não parecer blasé. A maioria dos mortaes dorme, ignorando moças e chicos e santinhos sejam marginalizados pela economia formal, sejam ao contrário, adoradores de capitalistas trocas, melhor hipótese: jovens da atualidade, em que idioma optarem.
            As melhores galinhas são aquelas que comemos com fome ou à cabidela mesmo, agora as piores? Não foram atiradas sobre uma prefeita petista antipática nem no campo de um temperamental Romário, da Vila da Penha, que venceu e pode gastar R$ 50 mil por ano, apenas com IPVAS da sua frota: o dinheiro é privado e “cada um” com seu cada um... Na Democracia temos a liberdade de dar esmola ou ensinarmos o que quisermos, desde que alguém queira aprender, inclusive abusados estudantes do Largo de São Francisco, que não jogam nada e só fazem criar polêmicas! Valeu baixinho, pela Copa de 94! Mas, as piores galinhas são difíceis de pegar, tão lá em BSB... Queria agarrar pelo menos uma e torcer com muito carinho o “pescocinho”, depois uma faca elétrica, presente de natal, até rasgar as “veinhas” da consumista: compram um vestido de cem mil dólares  e depois saem ciscando em suas Mercedes de farol redondo, com motoristas multi uso. Lazer intelectual que brigaria com a maioria “regra três” de Brasília, meretrizes oficiais, que acumulam milhagens na Air France. Na verdade, nem conseguiria achá-los por aqui, em Ipanema ou na Asa Sul. Precisaria viajar muito mais! As verdadeiras galinhas tropicais vivem no Bayside...  
                                                            RJ, 06 de março de 2004.
                                                             Abraços do Dr. Guto
   1 train de grand velocité.