GALINHAS
TROPICAIS...
Poucas oportunidades
chocam-se com os arautos da inferioridade que pensam, a priori, serem os
galináceos exclusividades das repúblicas de bananas ou vindas em périplos
marítimos, direto de Angola, para infestar os carnavais e casas de fundição do
Novo Mundo. Enganados lusitanos sempre competiram entre si, esquecendo as
“nações amigas” e digníssimas e airosas esposas. Trouxeram ensopados de uma Santa Inquisição, que não atingiram as
terras temperadas do Norte. Lá, as verdadeiras aves de rapina espalharam-se em
pratos e burgos, maqueadas nos
castelos ou do lado de fora dos castelos...
Claro que não pretendo exaltar a última esposa de Henrique VIII, pois se todas tinham seus méritos, desde uma plebéia
Ana Bolena, até aristocráticos
pescoços brancos, cortados pelo machado de quem usa capuz preto e fala pouco: a
esta anglicana coube a glória vingança ! Para desespero dos que criam galinheiros
ou são “caixeiros viajantes” não muçulmanos. Rainhas casadas ao nascer de
princesas, nada mais eram que damas-de-companhia daqueles varões assinalados
que lhes desposassem no quarto, à luz morna de candieiros ou vela derretida. A
honra lavava-se com sangue e duelos,
“protegidos” pelos fiéis escudeiros, que ficavam, domésticos armados
chamados filhos de servos. Assim difundiu-se a Moral dos sapateiros, ferreiros,
mascates e artesãos, que pelas “corporações
de ofício” nos tempos Modernos, colavam-se aos caprichos da realeza. Os
comerciantes mais ricos ganharam escarlates títulos de nobreza, escalando muros
e torres, e tanto puxaram os cabelos de Rapunzel
que surgiram as livres cidades, com suas perdições peculiares : temperos
bruxos de “sete saias” e donzelinhas.
Os protestantes protestavam contra as galinhas! E nas madrugadas, degustavam
canjas e coxas... Os prostíbulos eram profanos becos e tabernas de afirmação
masculina, onde os Príncipes
calavam-se à realidade das ratazanas, correndo junto ao mijo das ruas ou
cobravam ducados...
Boa viagem pela memória, porém as galinhas que refiro-me agora, não
estão soltas pelo calçadão noturno de alguma cidade, seja nos postes de Budapest, Londres ou São Paulo ou
bem vizinhas daqui, na Praça Paris,
no Largo do Bicão ou apinhado de “inferninhos” do Lido,
nem estão em frente ao Restaurante Nogueira;
próximas sim, onde abriram o primeiro túnel em direção ao bairro de
Copacabana, algum número perdido,
naquele antigo sobrado da rua do
Barroso... Estavam ali, apinhadas e banhadas por mangueira, dobrada pelos braços
de um português comerciante (caneta pendurada na orelha), que nem importava-se
em molhar a grade, por demais
enferrujada e suja. Em pleno Século XXI, no coração de um bairro urbano e
poluído, galinhas vendidas vivas aos cozinheiros. Caminhando por tão familiar
calçada, lembrei das palavras de uma senhora, lá num sítio em Nova Iguaçu,
perto da reserva ecológica de Tinguá, aonde íamos inocentes no fim da década de
setenta, sem saber que já fora refúgio de uma luta armada brasileira, pois o
pai do Flávio (com quem ia; hoje é policial federal), era exilado e cunhado da
dona do sítio (modelo casada com cônsul Italiano). Lá escondiam seus amigos e
trabalhava uma “preta velha”, muito rude, seguidora fiel de Escrava Anastácia;
certa vez falou: “garoto, o que você está mexendo nas galinhas? Eu já matei
elas.” Protetor dos animais já aos treze anos, perguntei por que torcia o
pescoço com tanta força e por que
guardar o sangue numa bacia? Ela respondeu meio irritada: “garoto, é
assim que aprendi! O sangue que dá gosto na comida : essa é carne caipira”. Não sei porque diálogos
surgem pelos frigoríficos de hipermercados onde compramos frangos congelados; é
que tempos depois, conversando com um maitre
de um vagão-restaurante, ao indagar se a carne de frango estava macia, o
mesmo respondeu-me em Inglês : “lamento,
não estamos num TGV1 francês,
nem a galinha é caipira”. Detalhes culinários que extrapolam fronteiras, talvez
o bom paladar, senhoras e donos de restaurantes sejam os clientes em potencial
daquele velho comerciante, que resiste em sacas de milho, no meio da metrópole.
Têm razão.
Volto-me às vagabundas de todos os tempos ou vagabundos, que também
existem os galetos e deputados de aluguel nos classificados jornais e inúmeros sites , modernidade a serviço dos que
cansam de belezas naturais e procuram provar o caldo mais quente das cidades.
Capítulo a parte sobre infidelidade, são turistas inveterados que danam os
cajados de pastores e freis e suas irmãs ! Traçam o que existir no underground das boates ou bares e invadem os melhores lugares hetero,
frequentados pelos nativos locais. Nas choperias, na Help ou Noites Cariocas,
nos Años Locos em Buenos Aires, nos Jardins paulistanos do Espaço
Massivo ou Puerto Livre. Fico por
aqui para não parecer blasé. A maioria dos mortaes dorme, ignorando
moças e chicos e santinhos sejam marginalizados
pela economia formal, sejam ao contrário, adoradores de capitalistas trocas,
melhor hipótese: jovens da atualidade, em que idioma optarem.
As
melhores galinhas são aquelas que comemos com fome ou à cabidela mesmo, agora as piores? Não foram atiradas sobre uma
prefeita petista antipática nem no campo de um temperamental Romário, da Vila
da Penha, que venceu e pode gastar R$ 50
mil por ano, apenas com IPVAS da
sua frota: o dinheiro é privado e “cada um” com seu cada um... Na Democracia
temos a liberdade de dar esmola ou ensinarmos o que quisermos, desde que alguém
queira aprender, inclusive abusados estudantes do Largo de São Francisco, que não jogam nada e só fazem criar
polêmicas! Valeu baixinho, pela Copa de 94! Mas, as piores galinhas são
difíceis de pegar, tão lá em BSB... Queria agarrar pelo menos uma e torcer com muito carinho o
“pescocinho”, depois uma faca elétrica, presente de natal, até rasgar as
“veinhas” da consumista: compram um vestido de cem mil dólares e depois saem ciscando em suas Mercedes de
farol redondo, com motoristas multi uso. Lazer intelectual que brigaria com a
maioria “regra três” de Brasília, meretrizes oficiais, que acumulam milhagens
na Air France. Na verdade, nem conseguiria
achá-los por aqui, em Ipanema ou na Asa Sul. Precisaria viajar muito mais! As
verdadeiras galinhas tropicais vivem
no Bayside...
RJ, 06 de março de 2004.
Abraços do Dr. Guto
1 train de grand velocité.
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